Vida útil na construção civil
Fernando A. Branco, Pedro Paulo & Mário Garrido
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características, os fatores ambientais e outros
fatores de degradação influenciama evolução desses
mecanismos. Este recebimento de dados pode,
essencialmente, ser realizado por duas vias: com
metodologias de i) curto prazo, ou ii) longo prazo.
As designações “curto” e longo” prazo referem-se ao
tipo de degradação que é possível observar com a
situação em causa: degradações que ocorrem num
curto espaço de tempo ou degradações que ocorrem
num espaço de tempo longo, respectivamente.
Os métodos de curto prazo caracterizam-
se, geralmente, por submeter os materiais ou
componentes a condições de exposição mais severas
do que aquelas que seriam encontradas em serviço.
Tal significa que os fatores de degradação podem
ser caracterizados por maiores intensidades ou
por ciclos mais rápidos (maiores frequências de
incidência). Como exceção, há situações em que se
averigua a existência de falhas prematuras, isto é,
situações em que o material ou componente chega
ao fim da sua vida útil muito antes do esperado
ou desejado, mesmo sob condições normais de
exposição.
Deste modo, estes estudos permitem observar a
degradação equivalente à que se verificaria durante
o período normal de serviço, mas num espaço de
tempo muito inferior a este. Este aspecto torna os
ensaios acelerados numa via bastante procurada
nos métodos de previsão da vida útil
(ROY ET AL.,
1996; JACQUES, 2000; PERRIN ET AL., 2001;
FEKETE ET AL., 2005; GIACARDI ET AL., 2008;
MOTOHASHI, 2008).
Nesta categoria, inserem-se essencialmente dois
tipos de ensaios: i) ensaios acelerados laboratoriais
e ii) ensaios acelerados de campo.
Os ensaios acelerados laboratoriais envolvem
a exposição dos materiais ou componentes a
fatores de degradação muito mais intensos e/ou
frequentes do que seria encontrado em serviço.
Estes fatores são criados artificialmente e visam
simular a ação durante o período de serviço, dos
agentes de degradação que se espera serem mais
condicionantes no contexto em causa.
Este tipo de ensaio permite isolar variáveis de
degradação, de forma a avaliar a ação direta desses
fatores sobre os materiais ou componentes em
estudo, facilitando a determinação dos mecanismos
de degradação provocados por cada agente.
Simultaneamente, é possível obter esses resultados
em espaços de tempo relativamente curtos, o que
é particularmente interessante para fabricantes
de materiais e de componentes que pretendem ter
um ritmo de desenvolvimento do produto rápido e
competitivo.
No entanto, esta é uma vantagem relativa. É
necessária precaução na interpretação e uso dos
resultados provenientes de ensaios acelerados,
uma vez que a sua correlação com a degradação
que ocorre em exposição real nas condições de
serviço é questionável e complexa
(MARTIN ET
AL., 1994; JOHNSON ET AL., 1996; MALLON
ET AL., 2002).
O fato de as condições de exposição
serem obtidas por meios artificiais, acrescido da
agravante de as suas intensidades e/ou frequências
assumirem valores muito acima dos esperados
em serviço, aumenta o risco de se originarem
mecanismos de degradação que não ocorreriam
numa exposição normal. De forma semelhante,
também os mecanismos de degradação que de fato
ocorrem sob condições normais de exposição, e os
quais se pretende reproduzir laboratorialmente,
podem não ser obtidos num regime de aceleração
da degradação. A contribuir para esta incerteza,
existe também o fato de o número de variáveis em
atuação simultânea nestes ensaios ser, geralmente,
reduzido (geralmente utiliza-se apenas um ou dois
fatores, não sendo comuns ensaios acelerados com
mais do que três fatores simultâneos). Tendo em
consideração a natureza sinergética dos fenômenos
de degradação, esta limitação do número de
variáveis em atuação simultânea pode também
reduzir o espectro de mecanismos de degradação
que são de fato induzidos nos ensaios acelerados.
Com base em considerações desta natureza, a
utilidade dos resultados dos ensaios acelerados
é por vezes posta em causa. No entanto, estes
ensaios, pelas suas características, constituem uma
ferramenta muito interessante para o estudo de
relações “causa-efeito” entre fatores e mecanismos
de degradação, carecendo apenas de prudência e
julgamento experiente na análise e extrapolação
dos seus resultados.
Por outro lado, os ensaios acelerados de campo
consistem na exposição de espécimes de teste em
1...,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13 15,16,17,18,19,20,21,22