Vida útil na construção civil
Fernando A. Branco, Pedro Paulo & Mário Garrido
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componentes para os quais se pretende obter dados
de vida útil em edifícios ou infraestruturas que não
foram explicitamente concebidas para a execução
de ensaios de durabilidade. Este tipo de abordagem
é particularmente útil quando a degradação está
diretamente ligada às ações e comportamentos dos
utilizadores.
Após esta fase de recebimento de dados, tem
lugar a
fase de análise de dados
, na qual toda
a informação recolhida anteriormente é utilizada
para construir modelos de degradação e obter
estimativas da vida útil do material.
Na análise de dados de vida útil de materiais
e componentes de construção existem diversas
formas e abordagens que podem ser adotadas. O
objetivo destas é a modelação do desempenho dos
materiais e componentes, para que seja possível a
previsão da sua vida útil.
Como exemplos de algumas das abordagens
mais utilizadas na análise e modelação de dados de
previsão da vida útil, podem ser referidos: i) teoria
da fiabilidade, ii) método factorial, iii) modelos
determinísticos, iv) modelos estocásticos, e v)
modelos de engenharia.
4.3 Caso de estudo: Plataforma
BuildingsLife
Recentemente foi desenvolvida uma nova
abordagem ao problema da previsão da vida útil
em elementos não estruturais, que se baseia na
inspeção de edifícios em serviço e numa análise
estatística das condições de degradação de
materiais e componentes. Esta análise estatística
é realizada com base num conjunto significativo
de inspeções, e pressupõe a prévia definição dos
níveis de degradação e dos fatores de degradação
a considerar. Este método foi implementado numa
plataforma web
(BuildingsLife)
, permitindo a
gestão da manutenção das construções, tendo
em conta a previsão do momento de ocorrência
dos vários níveis de degradação, além de ajudar
o projetista a escolher as melhores soluções
construtivas e materiais, com base nas curvas de
degradação e da sua interação com os fatores de
degradação
(PAULO, 2009; GARRIDO, 2010)
.
Uma das grandes vantagens deste método é a
possibilidade de aplicação a qualquer componente,
ou tipo de degradação, permitindo ainda, com
base em observações periódicas, ir corrigindo
o modelo inicial de previsão da vida útil da
construção em análise. O método tem em síntese os
seguintes passos:
Definição de níveis e fatores de degradação
– para cada anomalia que se pretende estudar
começa-se por se definir os níveis de degradação
com base numa escala entre 0 e 5, em que o
valor zero representa a ausência de degradação e
cinco representa a extensão máxima possível da
degradação. Em paralelo, estima-se os vários tipos
de fatores ambientais ou de materiais que poderão
afetar a degradação (fatores de degradação).
Inspeções
– são inspecionadas várias
construções (mais de 100), apresentando a anomalia
em estudo. Nestas inspeções é quantificada,
para cada construção, a extensão da degradação
associada a essa anomalia e feita a sua classificação
de acordo com a escala de níveis de degradação
pré-definida. São ainda caracterizados os fatores
de degradação (condições ambientais ou materiais
existentes), e determinada à idade da construção, ou,
se diferente, do componente inspecionado. Refira-se
que é, sempre que possível preferida que as inspeções
sejam baseadas em avaliações quantitativas face
avaliações qualitativas, uma vez que as segundas
são mais facilmente influenciáveis por fatores
associados ao inspetor e à sua própria experiência
e individualidade, afetando a replicabilidade e
comparabilidade com outros resultados. Como
exemplo de uma avaliação quantitativa, pode-
se considerar a caracterização da anomalia de
destacamento de revestimento argamassado numa
fachada através da quantificação da área relativa de
descolamento, utilizando-se para tal uma imagem da
fachada obtida por registo fotográfico (vide Fig. 8).
Modelagem
– utilizando os dados estatísticos
recebidos (extensão das anomalias em função da
idade dos componentes), é feita a modelação do
desempenho ao longo do tempo, em relação a cada
anomalia considerada. São utilizados modelos
determinísticos e modelos estocásticos. Os modelos
determinísticos são apresentados sob a forma de
1...,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15 17,18,19,20,21,22