Corrosão das armaduras do concreto
Enio J. Pazini Figueiredo & Gibson Rocha Meira
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Outro aspecto importante em relação ao teor
crítico de cloretos corresponde a como representá-
lo. Entende-se, hoje, que a relação [Cl-]/[OH-] seja
aquela que melhor representa esse parâmetro.
Contudo, a dificuldade de medir-se a concentração
de hidroxilas na solução dos poros do concreto
tem feito com que a relação entre cloretos livres e
totais e a massa de cimento, e mais especialmente
o último, tenha sido um parâmetro com amplo uso
para indicar risco de corrosão.
Glass & Buenfeld (1997a)
defendem que a
melhor forma de expressar o limite crítico de
cloretos é a relação entre o teor de cloretos
totais e a massa de cimento, tendo em conta
que a concentração de hidroxilas na solução dos
poros não é o único parâmetro que representa as
propriedades inibidoras do cimento e que os cloretos
inicialmente ligados podem vir a participar das
reações de corrosão.
No caso dos métodos empregados para identificar
a despassivação do aço e, portanto, o momento em
que se atingiu o teor crítico de cloretos, também há
uma extensa variedade, tais como as medidas de
densidade de corrente instantânea corrosão
(i
corr
),
as medidas de potencial de corrosão (
E
corr
), inspeção
visual etc., conforme se observa no Quadro 2.
Contudo, atualmente, há umamaior inclinação para
o emprego da densidade de corrente instantânea
de corrosão (
i
corr
) como variável indicadora da
despassivação
(ALONSO et al., 2000)
.
Esse cenário de múltiplas influências contribui
para uma significativa variação do teor crítico de
cloretos totais, assumindo valores que vão de 0,1 a
3,1 % (em relação à massa de cimento), conforme
exemplifica o Quadro 2.
Diante da grande variabilidade de resultados,
com reflexos das particularidades de cada
estudo, a tendência é que sejam adotados valores
conservadores
(GLASS & BUENFELD, 1977b)
.
Essa postura acaba se refletindo nas normas de
diversos países/regiões. Nesse sentido, a rede de
pesquisa
DURAR (1997)
apresenta os limites 0,4 %
de cloretos totais, em relação à massa de cimento,
para estruturas em concreto armado e 0,2 % para
concreto protendido.
As informações apresentadas neste item
conduzem a de um cenário bastante variável, onde
a adoção de limites conservadores tem o objetivo
geral de atender à maioria dos casos. Contudo,
o estudo de situações específicas pode conduzir
à adoção de limites que, independentemente de
menores ou maiores, sejammais precisos em função
das características particulares de cada caso, em
que um conjunto próprio de variáveis age de forma
simultânea.
Condições
Referência Ambiente
Valores ou intervalos do teor crítico de
cloretos
Método de detecção da
despassivação
Cl
-
livres
(%de cim.)
Cl
-
totais
(%de cim.)
[Cl
-
]/[OH
-
]
Prismas de argamassa
com cloretos
adicionados à mistura
Alonso et al.
(2000)
Argamassa
CP comum
0,4-1,16
1,24-3,1 1,17-3,98
Medidas da taxa de
corrosão
Quadro 2 - Limites críticos de cloretos para começar a corrosão - dados da literatura.
(Adaptado de ALONSO et al., 2000). (continuação)
Retomando o modelo de vida útil de
Tuutti
,
apresentado no Item 6.5, a iniciação da corrosão
é caracterizada pelo transporte, para o interior
do concreto, de agentes agressivos capazes de
desencadear a corrosão, em especial o gás carbônico,
responsável pela carbonatação do concreto, e os
íons cloretos, responsáveis pela ruptura localizada
da película passiva. Nesse sentido, a existência de
agentes agressivos no ambiente, as características
7. Fatores que influenciam a iniciação da corrosão
da matriz de concreto e as condições de interação
ambiente-estrutura são aspectos essenciais na
determinação de um maior ou menor tempo
demandado para iniciação da corrosão.
Não é objetivo deste Item realizar uma extensa
discussão sobre esse tema, mas apresentar alguns
exemplos de como alguns desses fatores aceleram
ou retardam o início do processo de corrosão.
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