ALCONPAT Int.
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Boletín Técnico 06
A formação e estabilidade dessa película
têm relação com a elevada alcalinidade da
solução aquosa presente nos poros do concreto.
Inicialmente se pensou que essa alcalinidade se
devia essencialmente à presença do hidróxido
de cálcio (Ca(OH)
2
), resultante das reações de
hidratação do cimento. Contudo, com a evolução
dos conhecimentos sobre o tema, verificou-se que o
elevado pH da solução dos poros do concreto se deve,
principalmente, aos hidróxidos de sódio (NaOH) e
de potássio (KOH), conferindo pHs da ordem de 13
a 14 à fase líquida do concreto (
LONGUET et al.,
1973; ANDRADE & PAGE (1986)
. O crescente uso
de adições no cimento pode reduzir o pH na solução
dos poros do concreto
(HAUSMANN, 1998)
, sem
contudo induzir a despassivação do aço.
A película passivadora protetora do aço é gerada a
partir de uma rápida e extensa reação eletroquímica
que resulta na formação de uma fina camada de
óxidos, transparente e aderente ao aço
(POURBAIX,
1987)
. A composição precisa dessa película ainda é
objeto de discussão. Embora haja algumas teorias,
uma das mais aceitas prevê a formação de uma
película composta de duas camadas: uma mais
interna, composta principalmente por magnetita,
e outra mais externa, composta por óxidos férricos
(
NAGAYAMA & COHEN, 1962 apud ALONSO et
al., 2010)
. Essa película apresenta uma elevada
resistência ôhmica, conferindo taxas de corrosão
desprezíveis, uma vez que impede o acesso de
umidade, oxigênio e agentes agressivos à superfície
do aço, bem como dificulta a dissolução do ferro.
A ação de proteção exercida pela película
passivadora é garantida pela alta alcalinidade do
concreto e um adequado potencial eletroquímico.
Essa condição pode ser melhor observada no
diagrama de equilíbrio termodinâmico proposto por
Pourbaix (1974)
para o ferro em meio aquoso, que
mostra as condições de pH e potencial nas quais
o ferro pode situar-se em três condições distintas:
corrosão, passivação ou imunidade (vide Fig. 1).
A zona de imunidade corresponde à
região do diagrama onde o aço não se corrói,
independentemente da natureza do meio ser ácido,
neutro ou alcalino. É para essa zona que o aço é
conduzido quando se aplica a técnica de proteção
catódica
(HELENE, 1986)
. A zona de passivação
Figura 1. Diagrama de equilíbrio termodinâmico, potencial versus
pH, para o sistema Fe – H
2
O a 25°C
(Adaptado de POURBAIX,
1974)
.
corresponde àquela em que as reações observadas
são as de formação da película passivadora, a qual
será mais ou menos perfeita em função do nível
de proteção que esta camada ofereça ao metal
(POURBAIX, 1987)
. É o que acontece com o aço
imerso no concreto, em que o pH está na faixa de
12,5 a 14,0 e o potencial de corrosão está na faixa
de 0,15V a 0,40V
(PETROCKIMO, 1960 apud
HELENE, 1986)
. Nessa zona, a corrosão não é
exatamente nula, mas ela ocorre a uma taxa tão
baixa que o metal possui a aparência de manter-
se inalterado
(ANDRADE, 1988)
. A zona de
corrosão corresponde àquela onde há as condições
termodinâmicas necessárias para que o metal
possa desenvolver a corrosão.
Como se percebe, o diagrama de Pourbaix
tem uma grande utilidade no estudo da corrosão,
fornecendo informações sobre as condições de
equilíbrio do ferro em função do pH e do potencial
de corrosão. Contudo, não fornece informações
sobre a cinética da corrosão, a qual depende de
outros aspectos, conforme se discute ao longo deste
fascículo.
A perda de estabilidade da camada passivadora
é que conduz o ferro ao processo de corrosão. Essa
situação ocorre pela penetração de substâncias
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